Entrevistas

São Paulo

M19 e o grupo Liberdade e Revolução levantam a bandeira do HIP-HOP ATEÍSTA

Por Paula Farias em 18 de outubro de 2010 ás 11:09 para o http://www.rapnacional.com.br
LR & M19

MC Thiago mais conhecido como M19(um grupo guerrilheiro que atuou na Colômbia na década de 80 que lutaram até a morte em defesa dos seus ideais), é da cidade de Blumenau – SC. O rapper ateu acredita que RAP também é uma forma e uma verdadeira arma em prol revolução, por isso aborda em suas letras temas como: direta capitalista , descaso da política nacional e internacional, racismo, religião, a escravidão contemporânea.
E representando o rap ateu da cidade de São Paulo, direto do extremo – sul o grupo Liberdade e Revolução formado por Vidal Edilson mais conhecido como DPA, e Negui já estão na caminhada do rap desde 1999, e agora estão lançando o novo trabalho que expressa bem toda a ideologia do grupo o disco “Resistindo a opressão estado e religião” .
Confiram abaixo a entrevista dividida em duas partes, primeiro com o M19, logo após com o grupo Liberdade e Revolução. Depois de conhecer as ideias, baixm as músicas e deixem seus comentários.

Portal RAP NACIONAL : Luz , câmera , caixão esse é o titulo do seu cd, o que você quer dizer com esse nome?
M19- O título Luz, Câmera, Caixão faz uma analogia com produções cinematográficas é a vida real e violenta que infelizmente existe em nossas cidades. Mostra que o que é produzido em estúdios de gravação também acontece nas ruas, mas de forma verídica e trágica. Na introdução criei um diálogo entre um atendente de uma vídeo locadora e um cliente que fica atônito com tamanha monstruosidade dos fatos que ocorrem nos filmes e seriados da vida, nas involuntárias produções que vemos todos os dias na televisão e que conhecemos através da história do nosso planeta, por isso, o título da introdução é denominado como Locadora Planeta Terra, são onde tais brutalidades ocorrem de fato.
P.R.N.: Você aborda varias temas em suas letras como, violência, racismo, religião, o que você deseja passar para o público através de suas músicas?
M19- Desejo veementemente propagar a revolta canalizada, romper o comodismo e o conformismo com que as pessoas encaram este mundo capitalista, racista, preconceituoso, mentiroso e desigual em que nós vivemos. Que mostra que devemos nos conformar  e sorrir em frente a TV, comprando compulsivamente e desnecessariamente, consumindo drogas,(incluindo cigarros e bebida alcoólica) ou vendo um time de futebol vencer um jogo financiado pelo próprio povo ,ou esperar por alguma entidade divina ,por exemplo, anestesiando assim a nossa sede de vingança contra o opressor. Desejo que a minha abordagem no assunto violência seja mostrada como um problema, e não como uma virtude como muitos rappers e funks passam em suas letras, mostrar que a violência existe, e todos somos culpados por isso, a política é culpada, e não o diabo como querem os teístas. É muito cômodo culpar um ser fictício e mitológico, ficar esperando por uma segunda vinda de um ser que nunca existiu e continuar aceitando toda essa incessante injustiça do que estudar e lutar, se for preciso até a morte por uma reforma na política atual.
P.R.N.: Você se considera ateu, isso te influencia na hora de escrever ?
M19- Sou ateu, ou seja, não creio em absolutamente nada sobrenatural, isso inclui deus, diabo, espíritos, alma, entre outros. Existe comigo uma convicção muito consistente de que jamais voltarei a acreditar como já acreditei, até porque geralmente nascemos e sem escolha somos batizados e doutrinados a crer sem nem ter noção do que significa religião, muitos dizem que um dia acabarei me ajoelhando e pedindo perdão, mas sinceramente não acredito que isso seja possível. A grande maioria do povo brasileiro nunca ouviu falar sobre outros deuses como Krishna, Mithra da Pérsia, Ísis, Dionísio da Grécia entre outros, que possuem a história semelhante à de Jesus e que são até mais antigos, mas não são conhecidos. Geralmente quando o cidadão cristão acerta algo ou consegue algo agradece a um deus, mas quando erra se julga por isso, isso com certeza é incorreto, pois o ser humano apesar de errar, e muito, também tem a capacidade de acertar! São incontáveis os fatores que me fazem desacreditar em deus e na bíblia, , onde não consta a presença dos dinossauros, onde prega o preconceito contra homossexuais, onde em Números 15:32 um homem a mando do tal senhor do amor é apedrejado por cortar lenha no sábado, onde em Levíticos 15:19-30 o fluxo mensal (menstruação) da mulher  é tratada com imundice. Se Adão e Eva realmente tivessem sido os primeiros a habitar a terra, seríamos fruto de uma relação sexual incestuosa, pois se eles tiveram Caim e Abel e depois Caim casou, ele casou, com quem foi? Só pode ter sido com alguma irmã, pois a única mulher existente que consta na bíblia na época era Eva, sendo que o incesto é condenado pela própria bíblia. Todos são ateus por parte, pois o evangélico não crê em Nossa Senhora Aparecida, por exemplo, o cristão não acredita em Alá e o Hindú não acredita em Jesus Cristo, eu somente não acredito em nenhum deles. Então é questão de análise lógica e não de fé. Minhas composições culpam o humano, somente o humano pelo mal do mundo, esse antagonismo entre o bem e o mal não passa de uma batalha somente entre a humanidade. Indubitavelmente sofrerei certa segregação por ser ateu, até porque a Inquisição existe até hoje, mas atua de maneira um pouco diferente, se existe pessoas entregando folhetos nas residências, fazendo músicas pregando o cristianismo, deverá existir também o respeito com o rapper que não crê em deus, mas que também luta em prol da periferia e faz oposição ao covarde capitalismo.
P.R.N.: Você é ateu, mas participiou recentemente da gravação do dvd do grupo gospel Raciocinio Real em São Paulo, como se dá esse contraste ?
M19- Participei e com muito orgulho a convite do meu parceiro Lucas, do grupo Raciocínio Real sem hesitar, da gravação no CEU lá do Grajaú, pra cantar a música O Preço da Guerra, que faço uma participação, pois ao contrário do que muitos crêem, existe amizade entre ateu e cristão e ele é um mano que além de ter um enorme talento é muito firmeza! O som aborda problema social, nenhum de nós faz menção a parte religiosa a não ser quando comparo a violência que aqui ocorre com a da radical Jihad muçulmana em uma rima, até porque ele não se limita em somente abordar assunto cristão e nem eu somente o ateísmo. O que entra em debate são as filosofias, elas podem viver em constante guerra, mas nem por isso haverá conflito pessoal, até porque deve-se saber debater com argumentos e não com ofensas pessoais.  O rap ateísta e cristão lutam em função da periferia, lutam contra a desigualdade social e contra a opressão que continua a aterrorizar o povo, eu, sendo ateu, acredito somente que a religião é algo desnecessário causadora de quase todas as guerras existentes, com Hitler foi assim, inclusive no cinto da SS constava a frase “Deus está conosco”, até hoje podemos observar no oriente médio por exemplo, pessoas decapitadas e carros bombas explodindo em nome de Alá, o que futuramente também deve chegar na  América. O que não consigo aceitar é a impunidade que existe com ladrões como Edir Macedo e  casal de pastores da igreja Renascer, ou mesmo como o Silas Malafaia pedindo ao povo dinheiro em nome desse deus, ainda em conluio com outro ladrão, o pastor Morris Cerullo dizendo que recebeu pela primeira vez a revelação divina de uma “unção financeira”, onde quem depositasse o valor até certa data com certeza mudaria de vida e teria seus problemas resolvidos, pra quem quiser conferir esta estupidez e ver como roubam descaradamente, poderá conferir no Youtube, isso é imoral, sujo e digno de severa punição!
P.R.N.: Pelas suas letras você pode ser considerado um gansgster, o que você acha dessas divisões dentro do rap ?
M19- Acredito que esta distinção que há dentro do Rap é inevitável, até para distinguir os próprios estilos que existem inclusos no movimento. Como é conhecido, o gangster  trata de assuntos mais polêmicos, fala mais diretamente e de maneira mais agressiva, já outros estilos nem sempre abordam temas sociais, alguns por exemplo abordam problemas mais individuais e psicológicos e infelizmente existe e tende a crescer por conseqüência da futilidade que nos é imposta pela mídia e pelo governo, o rap de moda, o que rima uma pá de putaria, o que deturpa o sentido do Rap somente visando o lucro, ostentando carros importados, roupas dos custos mais elevados, prostitutas , levando-o a fazer com que a patricinha dê risada e rebole, esse sempre terá espaço em todas as rádios e emissoras. Porque como um movimento socialista é taxado de déspota, assassino e violento, o Rap de protesto e denúncia é visto como um movimento de bandidos, ladrões e de usuários de drogas. Entretanto, não me considero gangster, procuro criar composições mais politizadas e sem omitir nada do que defendo ou repudio, porque se for pra utilizar o rap de maneira fútil, é melhor “cessar fogo”, é assim que penso eu e meus parceiros do Liberdade e Revolução, porque de música, inclusive Rap, pra auxiliar na corrupção da educação do povo já existe demais.
Contato: M19rap@gmail.com
Portal RAP NACIONAL-Como surgiu o grupo e vocês sentem o peso de ter escolhido um nome tão forte Liberdade e Revolução?
Liberdade e Revolução – Em 1999 fazíamos parte de um grupo já formado, e dentro desse grupo formamos uma “posse” chamado  Liberdade e  Revolução  que era formado por outros grupos da região com intuito de fortalecer o “Hip – Hop”. Chegamos a lançar um cd “demo” pra poder ambos serem divulgados, mas por falta de interesse de alguns grupos o projeto não pode ser continuado. Hoje em dia Vidal e Edilson (Grand.DPA) decidimos continuar o projeto do Liberdade e   Revolução, com um nome diferente mais com a mesma ideologia  ,atitude e força de  vontade pois como dizia Carlos Lamarca “se meu exercito mudar de lado eu mudarei de exercito”. A questão do nome do grupo tem uma causa justa, pra poder ter liberdade é preciso desenvolver censo critico e não aceitar o que a elite te impõe, o que deve ser ou não ser, por que quem deve decidir as necessidades do povo é o próprio povo, a partir do momento em que o povo saber que existe uma luta de classe por trás de tudo isso e agir com o poder que tem em mãos, (que infelizmente a maioria ainda não sabem disso), a harmonia não vai vir de “mãos beijadas”, ou seja pra se ter liberdade e viver realmente em harmonia é preciso de uma revolução, que não será conquistada através só de palavras e sim de atitudes coletivas do oprimido contra o opressor.
P.R.N- O que o público pode esperar do novo trabalho do grupo ” Resistindo a opressão estado e religião” ?
Liberdade e Revolução – Esperamos abrir um debate, queremos que as pessoas passem a discutir política, religião e futebol, pois acreditamos que enquanto não se discute não se muda, e assim tem sido por mais de 500 anos no Brasil a farra do opressor perante o silencio do oprimido, acreditamos assim como Marx que ” a religião é o ópio do povo”, mais é preciso esclarecer que protestamos contra as instituições religiosas respeitando a fé individual, quanto ao estado é preciso abrir o debate sobre de quem manda em quem, uma vez que todo poder emana do povo não podemos ficar a mercê de partidos de políticos que fazem e acontecem e sempre saem lucrando, quanto ao futebol e carnaval… a discussão sobre o efeito do pão e circo na vida do cidadão.
P.R.N- Há varias estilos dentro do rap nacional , o gansgter, undeground, gospel  e agora vocês se intitulam o Rap Ateista, como vocês encaram essas divisões ?
Liberdade e Revolução- Uma vez que o rap não tem um estatuto, não tem critérios de militância, ele não tem um direcionamento, por isso é normal que uns por não conhecerem a origem do movimento outros por quererem esconder essa origem outros por enxergaram uma oportunidade criam-se essas divisões que chamam de estilos, nós buscamos a essência do rap, sabemos de onde veio em que contexto histórico foi criado, entre guerra fria EUA e UNIÃO SOVIÉTICA, guerra contra o Vietnã explosão racial nos EUA, MALCOLM X E BLACK PANTERS, que diziam que o pobre já vem rezando a muito tempo e era hora de tentar outra coisa, não estamos inventando estilo apenas resgatando o rap politizado de protesto, o ateísmo foi conseqüência do conhecimento adquirido através da leitura inclusive da bíblia.
P.R.N- Na música ” Fim da Festa”, o refrão diz  “deixe de financiar o opressor”, como isso seria possível na visão do grupo?
Liberdade e Revolução – Será possível quando quem produz a riqueza se apodera dela, por enquanto podemos nos valorizar e deixar de financiar o opressor, entendo que a finalidade de um tênis é não andar descalço da roupa é não andar nu, por isso a roupa que vestimos ou o tênis pode ser qualquer um que o nosso valor está no nosso caráter não em quanto estamos pisando, a sociedade adestrou o pobre pra trocar afeto por presentes, a esposa namorada mede o amor do marido namorado pelo valor do presente e assim por diante dia dos pais das mães namorados aniversários…, acho que é fundamental entender essa engrenagem para depois discutirmos autogestão.
P.R.N- Deixem um salve para o público o rap que acessa o site ….
Liberdade e Revolução – Todos que tem apoiado e apoiam nosso trabalho seja de perto ou mais distante, e que não escutem os nossos discursos só por escutarem, e não ajam só por agirem, e esperamos que tenham compreendido e entendido a nossa proposta, leiam,assistam, reflitam, discutam,e questione , seja nas ruas, nas escolas, em casa…, e cheguem a um senso comum, só assim “conheceras a verdade e ela ti libertara”, e não deixem o verdadeiro rap nacional de protesto morrer, qualquer duvida acessem nossa comunidade, que com certesa estaremos dispostos a responde – los.
Saudações Revolucionarias:

Contatos : Discipulodaperiferia@hotmail.com / liberdade_revolucao@hotmail.com
Entrevista : Paula Farias